and so it goes..

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Céu Incerto

Pra não me perder não faço nada
Não levo essa vida pra me preocupar 
A vida que me leva 
Faz sorrir, faz chorar 
E muitas vezes eu não sei voltar

É isso que não dá pra entender
E isso pelo menos eu entendo
Se faz sol ou está chovendo ainda não deu pra saber

Eu sei que existe um outro lado
Procuro me achar num lado que é só meu
Que eu possa me esconder
Se meu destino desviar do seu
Que eu possa me esconder 
E aceitar que quem perdeu foi eu

Queria saber se tem saída
Pra fazer valer a pena essa vida
Eu sumo, até queria ficar
Assumo: já não consigo me achar


How I can decide what's right when you're clouding up my mind?

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Não.

Não segure minha mão, se você não me reerguer quando eu cair no mundo. Não me pegue em casa, se você não quiser aderir à rota inconstante da minha rotina. Não elogie meu cabelo, se você toca tantos outros por aí, e muito menos meu bom gosto ao vestir, se você não souber valorizá-lo com a devida honra. Não ligue para saber se cheguei bem, se quando você chega em casa, recebe ligações de outras vozes femininas. Não me chame de linda, se você costuma pegar coisa pior por aí. E muito menos de querida, se você não me estimar realmente como algo a mais que amiga sua. Não construa planos, quando o que você quer é viver com seus amigos, e nem plante sonhos em meu jardim, se você não pretender regá-lo com freqüência. Não me apresente como amiga, se acordo ao teu lado em manhãs cinzentas. Não projete em mim todos os seus medos irreais, caso você não queira realmente saber das minhas fraquezas, dependências, e defeitos. Não me ofereça seu casaco, se sua intenção não for a de me aquecer toda por dentro. Não suma repentinamente, se não quiser ser riscado por completo do meu enredo. Não me convide para viajar para a praia, se você não mantém nem ao menos a promessa de me levar para jantar. Não tire meu sossego, se não é você quem irá me devolvê-lo mais tarde quando preciso, e não mostre ser o máximo, se tudo que você puder me dar de si, é o mínimo. Não adianta de nada essa sua altura, se você faz questão de jogar baixo, e nem usar o melhor perfume do mundo, se é só o cheiro e na verdade você também joga sujo. Não trague seu cigarro perto de mim, se suas verdades inventadas são todas intragáveis. Não se faça de vítima, se quem está no alvo do tiro, na verdade, sou eu. Não me coloque em pedestal nenhum, se sua pretensão não é de me alcançar e salvar a vida, qualquer dia. Não faça bater mais forte meu coração, se quando perto do enfarte, você não construir a ponte safenada capaz de me livrar da loucura e da enfermidade. Não jure amor eterno, se sua eternidade for somente até amanhã. Não me chame de princesa, se quando você for coroado rei, outra rainha for sentar-se ao seu lado. Não me dê flores, se sua vontade, assim como a das plantas, também murchar. Não abra a porta do seu carro, se você não estiver ali de pé, em frente à mim, de coração aberto. Não me mande cartas, se você nem ao menos tem interesse em saber onde eu moro. Não me furte o fôlego, se não for para continuar me beijando. Não saque minhas roupas, se você não quiser também despir meus sonhos e aspirações. Não demonstre todo um sentimento, se quando com seus amigos e família, ele não parece existe. E não seque minhas lágrimas, se algum dia você também as fizer correr pelo meu rosto. Não.

(Camila Paier)


Mais uma vez a Camila me surpreendendo com seus textos. Perfeito!



Only love can be both heaven and hell

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Regrada.

Pouco importa se você ainda existe. Na verdade, é isso que eu tenho que dizer, e tentar acreditar a todo custo. Parte de um discurso que não sei se me pertence, mas pedem que decore. Luz, câmera, inanição: fraquejo. Enfraqueço para me fortalecer. Onde antes eu era pura ação, e zero mobilidade, hoje vejo meu pequeno crescimento em conseguir me controlar, e deixar de agir para que comigo ajam.
Melhor não ter um colapso se sei que alguma amiga te viu almoçando em teu lugar predileto, muito menos pensar longe quando ver no estádio de futebol lotado qualquer cara com o seu nome estampado atrás da camiseta - são tantos; ou pior, teu mesmo apelido. Nem fantasiar ao ver um carro idêntico ao seu, nas ruas aguardentes da metrópole, e que você poderia me salvar dos coletivos encharcados de gente me transportando quem sabe pro céu, na sua loucura automotiva (ou mesmo pro seu apartamento).
O que têm me ensinado as pessoas de bom senso muito maior que esse meu, fragilmente indecente, é que foda-se. Que se dane esse seu arrependimento que talvez nem exista. Toca todos esses sinais na fogueira, e deixa queimar, que agora você tem o poder da sua vida nas mãos, e o futuro é logo ali em frente, à direita depois da rotatória. Nada de sentar no meu barzinho irlandês e olhar pro outro lado da rua, na esperança fracassada de tentar ver você com seus comparsas, despreocupados. Deu de bancar a fênix pra cair no fundo do poço, e renascer surpreendendo à todos que desatentos estão. Foge desses amigos em comum que insistem em te fazer perguntas de como ele está, se nem ao menos você sabe. Deixa de ficar olhando todos esses horóscopos que te dizem pra seguir o coração, e não ligar pra opinião alheia. O mais surpreendente nisso tudo? Liguei pro foda-se e deu ocupado.
(Camila Paier)


Incrível, mas ela descreve direitinho o que eu sinto, o que eu passo, o que eu penso.. Ela é demais!

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Retrato

Quem falou que ia ser fácil? Que desencadear todos os processos disso que me queima, e em mim lateja, demoraria tanto? Ando pela cidade demente, cabeça baixa, passos largos. Tem sido difícil, rude. Sem vontade alguma de olhar pra frente, e encarar novos rostos, buscar na multidão algum reconhecimento. De óculos escuros, giant sunglasses - escondendo meus olhos detalhistas, minhas olheiras profundas em insônia, minha desvantagem em estar viva e não saber como aproveitar toda essa energia de gente ativa e sanguínea. Ao menos, consciência limpa. Leveza, sensação antiga de dever cumprido, parte feita. E ainda assim, desinteressada. Desiludida, de bode com a vida. Vontade inexata de implodir tudo, e reconstruir o mundo, seus valores, algumas vidas - com certeza, começando pela minha própria, definhada entre uma rotina que existe, mas não me surpreende. Um pouco decepcionada com os caminhos que escolhi, com o que a vida me ofertou, com o que disponho em mãos. Sou sempre eu agora, lutando contra a semana, pra que passe logo e eu possa ficar assim à sós comigo mesma, fugindo dos cliques das fichas que caem, máquinas que se movem. Baixando o som do que me tem me afugentado da vida, pelo lado avesso; aqui por dentro, quebra-cabeça interno. Tento me entreter ao máximo com superficialidades, passeios em família, novas roupas, futilidades desnutridas, risadas entre amigos. E sozinha, volto a me sentir avulsa e desnorteada. Estou triste por inteiro, e isso se reflete nos meus passos lentos, no meu olhar distante, na minha fala decadente. As pessoas captam essa meu aspecto cabisbaixo, meu pessimismo latejante, e em sua maioria, fogem. Além de não me deixar chorar, não chegam também perto, deixam de me abraçar apertado e quase solto a voz enlatada na garganta: nenhuma doença, quem sabe apenas uma gripe em desenvolvimento, porém digo que não estou doente de nada, que essa infelicidade não pega, e até vai se despedir qualquer dia, mas a maioria deles se debanda, e isso é o que me dá ainda mais força pra que queira ficar isolada e atravessar essa fossa como líder absoluta do meu próprio desvario.
Me pergunto então, no que ando errando tanto, papai do céu? Aonde é que se encobre a catástrofe que causei, pra que a sombra me seja marca d'água, esse bolero não volte a ser rumba? Injustiça, repito, nada justo ajudar, e não ouvir o que necessito, quando essencial. Dar amor, e receber de volta uma indiferença deslavada, um vazio completo de coisa boa alguma. Pedi tanto alguém pra gostar de mim, me cuidar, e fazer bem, um amor bom e real, e veio a divindade me brindar com um desafio inconstante, doloroso. Mais: pecaminoso, por vezes mordaz. Agora peço apenas o resgate da minha paz de espírito com recompensa de meu sorriso sincero, e o fim desses lamúrios todos. E que você afaste de perto de mim todos esses que não me fazem bem, e insistem em ficar. Que eu conecte a felicidade novamente, e não a deixe saturar. Pra que eu possa voltar a ver o mundo cor-de-rosa, e abandone o preto e branco de vez. E que eu levante o rosto, e olhe para os possíveis retratos que a vida tira de mim, e me retorna muito em seguida. Amém, e xis!

(Camila Paier)

domingo, 7 de novembro de 2010

Essa pressa futilmente preenchida.



- Eu só quero um par de sapatos vermelhos novos, um perfume novo e uma correntinha de ouro, pode ser só um L, ou meu nome. Só isso, e quantos sorrisos mais você quiser.
- Acho que tu deveria querer ser feliz, em primeiro lugar.
- Quero isso também, mas não dá pra comprar. O que o dinheiro paga são essas três coisas que andam me faltando, em futilidade. E podem me fazer feliz, quando no meu corpo.
- E amor, você esqueceu do amor, então? Achei que era primordial, amar e ser amada. E todo aquele cenário de contos infantis que você desenhava no ar.
- Não esqueci, só não sinto mais afeto nenhum. Não como antes. Temporariamente, fechei as portas.
- Como quando?
- Como eu nunca consegui em outras vezes.
- Eu te vejo mais complacente, engolindo a vida como quem come algo que detesta, mas não feliz. Depois tu fazes sempre aquela cara de quem come e tem náuseas, quer botar pra fora.
- Por isso, que eu reclame tanto, talvez. Tenho essa mania de querer gritar pro mundo o que tá errado, aquilo que não funciona. Mesmo que a minha voz não ultrapasse nem mesmo a janela do quarto.
- E olha que a sua voz é alta mesmo. Taí, verdade. Mas você não pode perder aquela coragem pueril de quem não pensava e agia. De quem ia sem medo nenhum, em frente, com o coração na mente, e nas mãos um celular.
- Assim era só pro que me tocava fundo. A quietude como resposta apenas pro que não me estremecia a base, não tirava do centro, não me dava suspiros vespertinos. É fogo ou frio, tu sabes.
- E agora, em que temperatura se encontra?
- Num verão que ainda nem nasceu. Querendo ser vanguardista, mesmo nem saber aonde isso dá. Se dá pé, dá fruto, ou planta dor. Mas quietinha e deixando o sol banhar com alguns raios aleatórios o corpo em biquíni, verão.
- Ainda é primavera.
- O mormaço também queima, meu bem.
- E o sapato vermelho, a corretinha dourada e o perfume, ainda são teus desejos destemidos? Tudo isso, pra quê? Desnecessário.
- Um sapato pra de um ângulo acima poder ver a vida, a correntinha pra ter algo valioso perto do peito e o perfume pra mudar de ares, já que nada acontece e as coisas não preenchem toda essa minha pressa desajeitada de abraçar o mundo.

(Texto adaptado de: Camila Paier)

sábado, 6 de novembro de 2010

Que ainda não passou.

Está aqui. Dentro, fundo e meio escondido, mas firme. Forte não, que por um fio se equilibra tudo isso há muito tempo. Mas fio esse, que talvez seja de cobre, ouro, metais nobres. Um fio que segura, e por onde a equilibrista dentro de mim se aventura. Mesmo você não sendo bêbado, e estando longe disso, é claro.
Descobri apenas à pouco, enquanto me esforçava em fazer careta ao ouvir teu nome, gritar pro mundo que você não existe mais na minha felicidade, concordar na sua idiotice calhorda e dançar loucamente à noite. Beijar aparentes príncipes, que não tinham nem de longe a tua malandragem, e eloqüência de sapo magnífico. Ajudei no que pude, compreendi emoções, tentei calar a minha boca grande, viver intensamenteFiz tudo o que me coubepara me livrar do sentimento nostálgico que é curar de vez esse vazio dolorido que me afinca o peito. Sanei tantas dúvidas, curei algumas questões incompreendidas, para esquecer aquilo que me inquietava por dentro. Cuidei dos outros, e me joguei num canto. E no final das contas, eu quem deveria encabeçar a minha lista em primeiro lugar, tirar todo e qualquer resquício seu, daqui. De mim.
Uma semana, e dois primeiros encontros. Saldo final? Nada que tenha me feito vibrar. Ou, pensar em substituir lembranças das nossas conversas sem fim, de algumas piadas internas, e o encaixe perfeito dos teus braços, sob a minha cintura. Não é tentando substituir que se esquece: só se lembra ainda mais. Em cada erro do outro, cada gafe, só se recorda mais e mais do quanto não era assim antes, com outro alguém. E isso dói. Comparar pessoas é mais ou menos como qualquer necessidade fisiológica: não é bonito, mas é inevitável. Não se pode fugir. Ainda não sei onde procurar alguém com o mesmo sorriso leve, e a maneira única de me olhar de frente, encarar com vontade. Eu tento, eu quase consegui, mas ao me colocar novamente em companhia-masculina-possível, titubeio. Vejo o banner do nosso filme, já na locadora, e quero morrer. Ouço a música que cantávamos juntos, animados e em descontração, e exito. Quase choro. E me faço brusca, fugitiva, e desinteressada: não dá. Se paro para refletir,me torno quieta - o que é raríssimo. Mesmo não sabendo o que fazer com tudo aqui dentro, que depois de tanto tempo, e muitos dias ainda me incomoda e tira meu sono, sou quase uma prisioneira: me tranquei nesse beco sem saída, nessa cela obscura, e é como se tivesse engolido a chave, sem volta. Precipitei situações, e te fiz ir longe; te vi ir indo, e perdi. Talvez pra sempre, quem sabe nunca mais. E todos me dizem que não valia a pena, que não vale e muito menos, valeria. Me pergunto íntima e por dentro, quando é que isso vai passar, que me aparecerá alguém à altura, que eu me pegarei apaixonada e feliz, como já fui? Rezo, e culpo alguns santos. Peço encarecidamente que Deus veja toda essa injustiça, e cubra o mundo com o que acredito. Saciada, medrosa e levada; vivendo, e fazendo acontecer. E mesmo assim, sentindo enormemente a falta nobre que é estar sem a sua presença ilustre.


(Texto adaptado de: Camila Paier)


Seria apenas mais uma história,se não tivesse tocado a alma.
(Caio F. Abreu)

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

O que é que te assombra?

Entrego-me inteiramente aos secretos impulsos dos meus dedos. Efeito da excitação de espírito em que me acho. Coração ligado, beat acelerado... Enfim, há um treco que eu queria entender. Não sei. E você acredita que a gente é o que a gente faz. Acaba indo pra cama ou se casa. Briga, se engana porque faz tudo no escuro, sem amar, me entende?

Eu nunca quero ter vergonha do que eu sou capaz de sentir. Quero passear de mãos dadas, brincar de pisar na nossa própria sombra. Café da manhã, almoço, jantar, ligações telefônicas no meio da tarde, no meio da noite. Sons, gostos, sabores. Teu sabor. O doce e o salgado em você. O tempo não existe.
Será amor o nome que damos pra essa necessidade doentia que se destrói? Será que a gente só sabe que ama quando o coração pulsa entre as pernas?

Quem ama não percebe o jeito que ama. Mas eu percebo que o coração pulsa entre as minhas pernas quando o amor já não cabe na frase. Quando eu descubro que o luar é o que existe de mais perfeito, só que depois, bem depois, muito depois de você.

O pensamento não pára.



my lover, my life 

E sobre tudo, ela se ama.

Assustada comigo mesma, estou calma. Complacente, harmoniosa. Sem pressa nenhuma, deixo que meus olhos se abram aos poucos para a realidade, desenvoltos da nuvem fantasiosa de pouco tempo atrás. Idealizações que criei abortadas, e agora passos lentos, como nunca me imaginei trilhando. Deixar que o destino atravesse seu caminho sem minha interferência inconveniente de questionadora, astuta e inquieta, é uma novidade. Até quando, não sei, mas reaprender a enxergar, caminhar e sentir tem me dado um alívio antes nunca descoberto. E eu permito que a vida se encarregue de deixar a felicidade entrar, com a porta sempre aberta a possíveis sorrisos e gargalhadas. Estado civil não garante alegria, e amizade é pra todo dia. Ser feliz comigo mesma é a companhia inusitada que senta no meu divã, e eu divago sem culpa nenhuma, entre o que foi, e que quero que venha. Com um sossego que me cala, e deixa consentir. Não abaixo a cabeça, mas a levanto cada vez mais: porque eu mereço, porque a vida é ao mesmo tempo esse minuto, e todo o amanhã, meses daqui também. E as possibilidades se ampliam a cada passo reformulado que a gente dá. Para a frente, e não para qualquer passado infortunado. Assim como navegar, inovar é ainda mais necessário. Dentro de mim, mudanças sutis se intercalam com estridentes descobertas. Se desordenam, camuflam e se unem. Teorias e confabulações que caem por terra, a cada nova experiência, pessoa conhecida, idéia trocada. Ideologias que mudam, sonhos que se permutam. Cada vez mais, a resposta que encontro é cuidar da pessoa que mais me ama nesse mundo. E uma certeza: ela está mais perto do que eu imaginava. Sentada agora nessa cama, deixando a mente tomar voz, e os dedos movimento, como sempre fez. E ela não prova mais nada para ninguém, porque ela sabe que se quiser conquistar esse mundo, nem munição nem força nela pecam em faltar. Se sabe um misto de santidade arcaica e novidade vanguardista. Ela é a contradição que sonhou pra si mesma, e vive tudo na mais aguda urgência; freneticamente. É completa em sua inocência, e simplista na mais ardilosa aventura que é atravessar os dias sem nenhuma vontade de sumir. Vitoriosa de suas dores, e uma fortaleza em conselhos bons, quando para os outros - que não vende, e nem os segue; distribui. Além do mais, é quem dignifica todo um sentimento, sem deixar que nem um pouco de amor não a atinja. E retribui, sempre. A cada novo sapato, corte de cabelo, ou elogio referido. Existe aqui dentro, e aprendeu a habitar também jardins floridos e avenidas desgovernadas; salas de aula superlotadas, entrevistas de emprego, e noite ativamente vazias de conhecimento e cultura. Eu a amo quando acorda de manhã, sem querer falar com ninguém, e quando vai deitar tarde, tamanha insônia. Ou quando toma algumas dessas suas bebidas quentes, e me confessa querer ver o mar, tão longe. Me apaixono a cada foto infantil que nostalgia, ou intuição correta que segue. Pela sua mania em ser ímpar, e não formar nunca par.
Sabe o que é melhor nisso tudo? Eu completei esse nível sozinha. Ela também se alucina e derrete com meus erros e defeitos, com minha ansiedade constrangedora, e arrogância calada. E é nessa reciprocidade benfazeja que eu me amo e me completo cada vez mais, orgulhosa das escolhas que fiz, e de todo lugar que pisei, decisões que tomei. Gosto do meu pé largo, das minhas coxas grossas, e cada vez mais do meu cabelo loiro. Do meu coração imenso, da minha amansidade em palavras, da minha pressa corajosa de seguir em frente. De toda essa fé que tem me tomado conta, e me feito valente. De ser como sou, e não me negar em nenhuma circunstância. Hoje eu sei que me amo, e sabe do que mais: além de me retribuir, me recompenso. Sempre mais, e mais. Até aparecer alguém que me faça conciliar todo esse amor concreto que é real, e valorizá-lo ao invés de jogá-lo num canto qualquer. E que com um amor também sólido e absorto em hombridade, seja corajoso o suficiente para aguentar essa minha loucura doidivana de me gostar demais para depois gostar de qualquer outra pessoa.

(Camila Paier)

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Estado Civil: Desinteressada.

E daí que eu sou só falta de interesse em tudo que não me atiça os olhos, ou palpita as veias. Abnego toda e qualquer coisa que não me dignifique como realmente me sinto: no topo, inatingível. Hoje eu é que me sinto mais madura e tão mulher pra mais da metade, ou praticamente todos, os caras que passaram na minha vida. Só me deixo sair da linha pelo que for maravilhoso, singular, diferenciado. Ou valer muito a pena. Deixo meu coração trancafiado às sete chaves, porque para chegar até o cerne, até o limite onde hoje ele se encontra denso e escondido, será uma verdadeira prova de fogo que quem se queima cai fora - onde faltava capacidade, me sobra agora indiferença. Sem vidas a mais, sete, cinco; apenas essa única com a qual viemos à Terra e não há data marcada para o fim. Tudo porque minha preocupação em ser altruísta é tão leve e companheira da minha própria presença, que minha vontade é muito mais de seduzir e cair fora, do que simplesmente tentar ver em todo e qualquer homem alguma coisa boa que me faça prestar atenção com mais destreza e sensibilidade. Não vale a pena, eu penso. Me cansa inteira ficar desenrolando alguma paixão onde já se fecharam portas - ou há janelas que nunca penso em deixar abertas - e ouvir de todo mundo que as pessoas mudam, e merecem chances, e que só irei saber realmente onde dá, se tentar. Quando na realidade, sei que se ocupamos nosso tempo tentando fazer com que qualquer sentimento desponte por quem não nos completa, nem nos faz pensar furtivamente em alguma hora do dia, seja no caminho pra casa, ou naquele cartaz de filme exposto em frente à locadora, não vale a pena. Isento qualquer preocupação previsível de futuro. E curto, tento aproveitar ao máximo. Rio, e danço, sem pensar nem no amanhã e nem em dia nenhum, querendo apenas que o hoje me faça deitar na cama e pensar: foda-se todo esse mundo, eu me diverti. As pessoas que se preocupem consigo mesmas e suas felicidades irreais, ilusórias. Não foi a isso que me fizeram acatar? Inscrita no desapego way of life, desbanco oportunidades, e esbanjo despreocupação por aí. Incrivelmente, isso atrai.
Agora são os outros que esperam essas minhas ligações que não ocorrerão, e respostas de perguntas que detesto e deixo no ar, tudo porque já fui por demais pisoteada, e se num dia somos caçador, a glória de ser caça e fugir pra longe, correr veloz, chega também. Nenhum apego, isenção de afetos. Sem mais pensamentos depressivos em músicas suaves, ou vontades incontroláveis de ligar para o que um dia fez total sentido. E o melhor: ver que esse lado da moeda (ou proposta temporária de vida) pode ser algo altamente interessante. E benéfico. Que funciona muito melhor ao ego do que fazer as unhas na sexta-feira ou comprar um par de sapatos. Ou cortar o cabelo, ou escutar cinco cantadas por quarteirão percorrido. Quando você está por cima, você realmente se sente poderosa e feminina, meio como aquelas mulheres escorregadias dos filmes em preto e branco, década de cinquenta, que amam quem não devem e fazem sofrer aqueles que insistem em tentar mergulhar em algo que os afogará. Capaz de sair de táxis em movimento, e atravessar a rua com um sorriso na face, em fuga. Sem se sentir vadia, ou promíscua, apenas uma lady que se preocupa apenas em manter a vida ocupada, e a mente leve, sã. Que vai vivendo, e vendo no que dá, enquanto nada a faça novamente suar as mãos, ou manifestar os tão antigos e apegados sentimentos de ansiedade frequente. Uma menina que arranca e larga flores pelo caminho, deixadas ao chão, ou em árvores aleatórias, até o encontro do girassol que a faça envolver o mundo, e desprender toda sua majestosa atenção. E que valha a pena, na mesma medida altamente real que ela também vale.


(Camila Paier)